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“A Hora da Estrela”: um retrato duro e delicado da invisibilidade social
Macabéa busca felicidade em São Paulo, mas o destino cruel a transforma em estrela apenas no instante final de sua vida.
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Lançado em 1985, A Hora da Estrela é um dos mais marcantes retratos da literatura brasileira no cinema. Dirigido e roteirizado por Suzana Amaral — com colaboração de Alfredo Oroz e da própria Clarice Lispector — o filme transporta para as telas a angústia silenciosa e a lucidez poética presentes no romance homônimo. A diretora realiza uma obra intimista e profundamente social, conduzindo o espectador a mergulhar na vida de Macabéa, uma nordestina que chega a São Paulo em busca de um futuro melhor, mas encontra uma cidade indiferente, movida pela pressa e pela desigualdade.
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Marcélia Cartaxo, em atuação premiada no Festival de Berlim, encarna com rara delicadeza essa personagem frágil e ao mesmo tempo resistente. Macabéa é uma jovem quase transparente, cujos sonhos são pequenos — comer um cachorro-quente, ser amada, ouvir rádio —, mas que representam toda a grandeza e tragédia da condição humana. Amaral filma com realismo quase documental, usando cenários simples e luz crua para revelar a solidão que permeia a vida da protagonista.
Em determinado ponto da narrativa — e aqui um breve spoiler se impõe — Macabéa acredita ter encontrado o amor e uma chance de felicidade, mas o destino lhe reserva um fim súbito e cruel. É nesse instante, paradoxalmente, que ela se torna a estrela do título: sua morte ilumina a tragédia dos que nunca são vistos.
Mais do que um drama pessoal, A Hora da Estrela é um retrato do Brasil dos anos 1980 — e, infelizmente, ainda atual. Denuncia a exclusão social, o preconceito regional e a frieza de uma metrópole que devora seus anônimos. A sensibilidade de Suzana Amaral e a força do texto de Clarice Lispector fazem do filme uma obra essencial para compreender não apenas o cinema brasileiro, mas a própria alma do país.
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