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Arte em todo lugar

Como o MAPA, mostra itinerante em outdoors, leva obras de artistas para as 27 capitais brasileiras

por Ágata Fidelis 21 out 2022 09h30
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(Clube Lambada/Ilustração)

elho conhecido do público, o outdoor é uma plataforma de marketing que vem perdendo espaço nos grandes centros urbanos, especialmente em São Paulo, desde que foi aprovada a lei Cidade Limpa, em 2006, que baniu para sempre o formato na capital paulistana. A perda da relevância tem um vilão certo, com nome e sobrenome: marketing digital. Enquanto a maioria das marcas aposta no on-line para comunicar suas novidades, percebemos que essa perda de relevância não é bem verdade quando andamos pelas periferias das grandes cidades ou o interior do Brasil, onde fica claro que os outdoors não são apenas ainda muito utilizados, mas também uma importante ferramenta na cultura do comunicar dessas áreas.

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E, se eles carregam anúncios publicitários, por que não poderiam ir além? Com a ideia de utilizar os outdoors como plataforma de desdobramento da arte, a curadora independente Patricia Wagner se uniu à Camilla Barella e Cecilia Tanure, cabeças da VIVA Projects, agência de conteúdo, projetos e consultoria em torno da arte contemporânea, e juntas criaram o projeto M.A.P.A. – Modos de Ação para Propagar Arte. O convite veio em 2020, no auge da pandemia, e a proposta era ambiciosa: ocupa 27 outdoors, nas 27 capitais brasileiras, com o trabalho de 27 artistas de linguagens múltiplas, subvertendo a lógica do comércio, da propaganda e do palanque eleitoral, que faz uso frequente dessa mídia, para capturar o olhar do público desprevenido em suas rotinas na cidade, fazendo da rua um espaço de ação e resistência. (Em caráter de exceção, devido à Lei Cidade Limpa, em São Paulo a obra foi exposta no município do Osasco)

Atualmente em sua 2ª edição com a mostra Horizontes Moventes, entre agosto e outubro de 2022, o projeto rompeu fronteiras geográficas levando arte para o espaço público através das obras de artistas relevantes, atuantes nas mais diversas áreas da cultura numa extensão que transborda as fronteiras e se desdobra em experiências poéticas singulares concebidas para o espaço público.

“Nesse momento em que o desmonte e o desprestígio pelo qual passa a produção cultural desestabilizam as estruturas de apoio a ela, entendemos ser responsabilidade dos agentes da cultura criar formas criativas de driblar os interesses desarticuladores”

Patricia Wagner
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(Filipe Redondo/Divulgação)

Entre os nomes que participam da atual edição, Adriana Calcanhoto, Ana Lira, , André Dahmer, Anna Bella Geiger, Antonio Obá, Ayrson Heráclito, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Carmela Gross, Carmézia Emiliano, Castiel Vitorino Brasileiro, Érica Ferrari, Gustavo Caboco, Guy Veloso, Hudinilson Jr., Ícaro Lira, Jonathas de Andrade, Juliana dos Santos, Laura Belém, Maré de Matos, Neide Sá, Rafael Bqueer, Regina Silveira, Rivane Neuenschwander, Virginia de Medeiros, Walter Carvalho e Yhuri Cruz.

A mostra foi dividida em 4 ciclos, começando em 6 cidades, exibidas em conjunto durante 14 dias, completando o total de 27 cidades.  Abaixo, você confere nosso papo com Patricia Wagner, curadora do projeto.

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(Acima, Laura Belem, em São Luis (MA) / Bruno Azevedo; abaixo, ROMY em João Pessoa(PB) / JosemarGonçalves/Divulgação)

Como foi montar esse line-up estrelado de artistas para a segunda edição do MAPA? Tem alguma obra em particular que seja preferida ou que tenha mexido com vocês?
A exposição Horizontes Moventes se constitui em uma ação no espaço público que interpela a atualidade do debate em torno da noção de identidade. Nesse sentido, a escolha dos artistas está associada às relações percebidas pela curadoria entre a produção poética dos artistas e os possíveis desdobramentos em relação à proposta curatorial.

Qual a importância de fazer uma exposição itinerante e levar arte para todos os estados do Brasil em um momento de desmonte da cultura?
A estrutura do Projeto M.A.P.A. atende a um desejo de criar uma exposição no espaço público sem hierarquizar a diversidade cultural do país. Nesse momento em que o desmonte e o desprestígio pelo qual passa a produção cultural desestabilizam as estruturas de apoio a ela, entendemos ser responsabilidade dos agentes da cultura criar formas criativas de driblar os interesses desarticuladores, a fim de sustentar e impulsionar a produção poética crítica.

Como quem não é daquele estado pode ter acesso às obras também e conferir o MAPA na sua totalidade?
O projeto conta com duas plataformas de divulgação, uma conta no Instagram @projeto.mapa e um site (vivaprojects/mapa). Ambos são atualizados a cada ciclo com obras dos artistas em exibição. Contamos também com um apoio importante da mídia interessada no projeto, tanto em veículos de abrangência regional como os de maior circulação no País.

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O MAPA começou na pandemia e agora, com a reabertura de tudo, ele continua se mostrando relevante. Quais foram os desafios de adaptar o projeto para a nossa nova-velha realidade?
Foi um enorme desafio realizá-lo na pandemia. Uma vez que entendemos quem seriam nossos principais parceiros e aliados nessa empreitada em favor da arte, seguimos na segunda edição com as questões imprevisíveis que permeiam qualquer exposição. 

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Além dessa veia itinerante, existe vontade de desenvolver alguma residência para o projeto?
No momento, estamos interessadas em experimentar as inúmeras possibilidades poéticas do formato atual do projeto.

“Acreditamos que os trabalhos em sua qualidade poética superam em muito uma discussão partidária. A arte contemporânea tem, em sua dimensão política, a capacidade de intervir, desconstruir e alterar uma dada realidade sensível”

Patricia Wagner
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(Brenda Alcântara/Divulgação)

A mostra inclui obras de artistas que fazem críticas sociais ou até trazem uma abordagem mais explicitamente política. Tiveram algum tipo de dificuldade ou censura durante o projeto?
Lamentamos que em cinco cidades que receberam o Projeto MAPA exibidores tenham se recusado a apresentar os trabalhos de alguns dos artistas participantes sem fornecer maiores explicações. Em alguns casos, a justificativa foi a cor ou teor da obra. Mesmo afirmando a dimensão inexoravelmente política da arte contemporânea, acreditamos que os trabalhos em sua qualidade poética superam em muito uma discussão partidária. A arte contemporânea tem, em sua dimensão política, a capacidade de intervir, desconstruir e alterar uma dada realidade sensível pré estabelecida, a qual o uso do outdoor como suporte tem a possibilidade de atingir sem abrir mão de recursos criativos e poéticos. Como solução, os artistas que foram vetados em uma cidade foram sugeridos para outras cidades que aceitaram a arte. Não trocamos artistas já escalados para o projeto e tampouco pedimos mudanças nas artes.

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