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Se você chegou a março de 2021 morando neste planeta – especialmente no Brasil –, muito provavelmente você já ouviu aquela frase: “se você tem noção do que está acontecendo, não tem como você estar bem”. Estamos passando por uma pandemia que está longe de acabar, vemos uma crescente de governos de direita no mundo todo, temos um presidente genocida, a quantidade de pessoas em situação de rua só aumenta, a moeda do Brasil nunca esteve tão desvalorizada. Eu infelizmente poderia seguir listando outros motivos para arregalar os olhos e dar uma choradinha, mas eu não vou fazer isso porque nem você, nem eu, temos saúde mental suficiente para lembrar de tudo que tem de errado no mundo.
Essa, inclusive, parece ser uma das principais pautas dos tempos atuais e, talvez, dessa geração. As buscas por transtornos mentais no Google aumentaram 98% em relação à média dos últimos dez anos, de acordo com dados fornecidos pela própria plataforma. Além de falar sobre as doenças, quando olhamos para assuntos relacionados à saúde da nossa mente e esse universo de discussão, como “empatia”, é possível observar um aumento de 450% no interesse, também de acordo com o volume de buscas no Google. “É um tema que faz parte do nosso inconsciente coletivo e esse mal estar da sociedade se reflete até na produção cultural. Nunca tiveram tantas séries na Netflix falando sobre psicopatas, relacionando seus comportamentos a questões de saúde mental. Também existe um boom de séries como Euphoria e We Are Who We Are, que falam sobre as gerações mais novas, seus dramas e conflitos, seus problemas de saúde mental. Na música, temos o Emicida, com AmarElo, fazendo um álbum inteiro dedicado a essa questão. Sinto que de fato é um reflexo do que a gente está vivendo, do que a gente está passando no mundo”, pontua o escritor, consultor e palestrante André Carvalhal.
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Se no ambiente digital a procura por termos relacionados à saúde mental subiu, na “vida real” o fenômeno também foi o mesmo. “Houve um aumento muito grande na demanda por profissionais de saúde mental durante a pandemia. Recebo pedidos de atendimento toda semana, muitos, e faz muito tempo que estou sem agenda. O crescimento da procura por atendimento psicológico não foi só de pessoas, mas também de organizações, porque as empresas estão entendendo que os funcionários adoeceram psiquicamente durante a pandemia”, relata o psicólogo Lucas Veiga, mestre em psicologia e expoente da Psicologia Preta, vertente da psicologia que oferece uma série de ferramentas que, em meio às violências do racismo, ajuda a promover saúde mental para a população negra. “Não vejo isso diminuindo, apenas ascendendo, e acho que isso está diretamente ligado à popularização da discussão. Até muito pouco tempo atrás no Brasil, para a grande população brasileira – que, vale lembrar, não é a gente, eu e você, privilegiados com ensino superior e que faz reflexões –, terapia era coisa para maluco. Esse discurso, que se tornou hegemônico durante muito tempo, despedaçou durante a pandemia”, ele completa.